Esboceto de Vasco da Gama, por Miguel Lupi.
Miguel
Ângelo Lupi (Lisboa, 8 de Maio de 1826 — Lisboa, 26 de Fevereiro de 1883) foi
professor de pintura histórica na Academia de Belas Artes de Lisboa e um dos
mais destacados pintores portugueses da época romântica.
Miguel
Ângelo Lupi nasceu em Lisboa, a 8 de Maio de 1826, filho de Francisco Lupi (de
origem italiana) e de Maria Soriana do Carmo1 . Mostrando desde cedo vocação
para as artes visuais, matriculou-se na Academia de Belas Artes de Lisboa em 4
de Fevereiro de 1811, cursando desenho histórico.
Aluno
talentoso, foi premiado nos anos lectivos de 1841 a 1843. Terminados os
estudos, apesar do seu brilhantismo, não conseguia viver apenas da sua produção
artística, pelo que em Maio de 1849 obteve emprego na Imprensa Nacional de
Lisboa, como amanuense da contadoria.
Permaneceria
naquelas funções, sem prejuízo de continuar a pintar, até Abril de 1851, data
em que se transferiu para o lugar de contador na Junta de Fazenda da Província
de Angola, em Luanda, para onde partiu a tomar posse do seu novo emprego.
Permaneceu naquela cidade até 1853, exonerando-se do lugar a 27 de Setembro do
mesmo ano, regressando, então, a Lisboa.
Mantendo-se
empregado na Administração Fiscal, em 12 de Outubro de 1855 foi nomeado
Aspirante de 2.ª Classe da Repartição de Fazenda do Distrito do Porto. Apesar
do decreto que o nomeara, nunca chegou a exercer o lugar, pois foi transferido
a 24 do mesmo mês para Aspirante de 2.ª Classe da Direcção do Tribunal de
Contas, em Lisboa. Ali permaneceu, sendo por decreto de 26 de Agosto de 1859
nomeado Amanuense do mesmo Tribunal.
Miguel
Lupi, apesar de exercer as funções de Funcionário Administrativo, não largara
nunca o pincel e a paleta, continuando a pintar. Funcionário do Tribunal de
Contas, foi encarregado, em finais de 1859, de pintar o retrato do Rei D. Pedro
V para a Sala de Audiências daquela instituição, obra que ainda se mantém numa
das suas salas. Face ao sucesso do retrato, e ao reconhecimento, como artista,
que essa obra lhe granjeou, entre as altas esferas do Estado, o Governo de
então resolveu conceder-lhe uma pensão, para que estudasse pintura em Itália,
decisão que foi acolhida com geral aplauso.
Finalmente,
aos 34 anos de idade, já munido dessa bolsa governamental, Miguel Ângelo Lupi
pôde dedicar-se por inteiro à pintura. Partiu, em 1860, para Roma, onde estudou
pintura com os melhores mestres italianos da época. Como acontecia naquela
época com os artistas que iam a Itália para aperfeiçoamento e aprendizagem,
Miguel Lupi treinou, copiando obras de artistas famosos, como Ticiano,
Corregio, Andrea del Sarto e Diego Velazquez. Permaneceu naquela cidade até
Novembro de 1863, altura em que regressou a Lisboa.
O
primeiro quadro, da colecção que pintou em Roma, chamava-se D. João de
Portugal, tendo por assunto a cena final do 2.º acto do drama Frei Luís de
Sousa, de Almeida Garrett. Com aquela obra revelou-se um grande pintor
histórico, nas palavras encomiásticas de Pinheiro Chagas, um homem fadado para
arrancar da sombra da história as figuras que no seu primeiro plano se agitam e
fazê-las reviver na tela.
Em
1863, mesmo ano do escândalo parisiense da exposição pública de
"Olympia" de Manet, Miguel Lupi apresentou-se como candidato à
cadeira de Pintura Histórica da Academia de Belas Artes de Lisboa, executando
para esse concurso a tela, que intitulou Um beijo de Judas. Sendo aprovado, o
público culto da capital saudou com verdadeiro entusiasmo a sua nomeação, a 15
de Fevereiro de 1864, para professor interino da instituição. A partir daí
poderia, finalmente, entregar-se definitivamente aos estudos da pintura
histórica, os quais eram da sua predilecção.
A
partir daqui, Miguel Lupi tornou-se o artista predilecto da Burguesia Lisboeta.
Nas exposições da Sociedade Promotora de Belas Artes, realizadas em 1863 e
1864, os visitantes agrupavam-se frente dos seus quadros. Nesta última
exposição, o quadro Esperança e Saudade conquistou grande aplauso da crítica.
Em
1867 foi encarregado de ir a Paris, em comissão do governo, inspeccionar os
trabalhos do monumento a D. Pedro IV que ali se estava fazendo, e da qual
elaborou um circunstanciado relatório, que publicou em Lisboa. Terá sido esta a
sua única missão oficial depois de ter sido nomeado Lente da Academia de Belas
Artes de Lisboa.
Algum
tempo depois de regressar de Paris, foi nomeado Professor Efectivo da Cadeira
de Pintura Histórica, passando, para além das suas tarefas de ensino, a
produzir retratos das principais figuras da sociedade portuguesa. Era
considerado um retratista de primeira ordem que apanhava a semelhança com uma
facilidade surpreendente.
Os
seus quadros estiveram patentes na exposição de Madrid em 1871, sendo premiada
a composição intitulada Mãe. Também foi premiado na Exposição Universal de
Paris, em 1878, em plena expansão do Movimento Impressionista com o quadro As
lavadeiras do Mondego.
Miguel
Lupi faleceu em Lisboa, a 26 de Fevereiro de 1883, com 56 anos de idade, tendo
a sua morte sido muito sentida. Pinheiro Chagas publicou no Occidente (volume
VI, 1883) uma extensa biografia do pintor. Ainda em 1883, logo após o
falecimento do artista, a Academia Real de Belas Artes realizou uma homenagem
póstuma, com uma exposição retrospectiva de sua obra e um leilão, do qual ainda
se conserva o catálogo.
As
obras de Miguel Lupi estão presentes nos principais museus portugueses e em
diversas instituições oficiais, para as quais pintou retratos e cenas
históricas. Os trabalhos de Miguel Ângelo Lupi afastam-se da pintura romântica
característica dos pintores portugueses seus contemporâneos, aproximando-se das
novas tendências da segunda metade do século XIX. Apesar das linhas fundamentais
do seu trabalho incidirem no retrato dos ricos e famosos da época, Lupi pintou
também cenas de interior, cenas da vida familiar e temas de carácter histórico,
como a obra Marquês de Pombal examinando o projecto da reconstrução de Lisboa,
o seu último quadro. Também fez pintura de costumes, retratando aspectos da
sociedade portuguesa de então.
A
toponímia da cidade de Lisboa reserva-lhe uma rua.