Sem título, c. 1958, óleo sobre cartão, 46 x 34,5cm
Manuel
Trindade D’Assumpção (Lisboa, 24 de Abril de 1926 - Lisboa, 21 de Julho de 1969)
foi um pintor português.
A
sua obra inicial enquadra-se no âmbito do surrealismo, para mais tarde optar
por uma forma de abstração consonante com a Escola de Paris (nomeadamente
Manessier).
Em
1934 parte para Portalegre, juntamente com a irmã e a madrasta. Inicia os seus
estudos de pintura e fotografia com o pai, Luís D’Assumpção, e com Miguel
Barrias, um pintor expressionista de talento.
Em
1947, como bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, partiu para Paris onde se
tornou discípulo de Fernand Léger, tendo depois estudado História da Arte com
Jean Cassou no Louvre. Conheceu Atlan e Hains, pintores líricos, e António
Maria Lisboa, que se tornou a sua única amizade definitiva e tutelar e de quem
pintou um retrato. A morte do poeta, em 1953, causou-lhe grande impressão.
Isolou-se
em Portalegre, onde realizou para um café local um quadro, "Último
Bailado" - Homenagem a Paul Éluard (1955), depois de numerosos quadros
surrealistas, que desapareceram. Em 1958, regressa a Lisboa, disposto a expor,
como acontece no Salão de Outono da S.N.B.A., onde, ao apresentar o quadro
intitulado Génesis, que o critico José Augusto França elogiou num artigo no
Diário de Noticias, atraiu as atenções do público mais esclarecido,
conquistando rapidamente um núcleo de admiradores. Ainda no mesmo ano é
premiado em Vila Real, sendo-lhe adquirido um quadro para o Museu de Arte
Contemporânea.
A
sua pintura desta época apresenta grandes arquitecturas abstractas retalhadas,
onde os contrastes de cores e de valores luminosos sugerem dinamicamente uma
profundidade pura. Trata-se, numa primeira aproximação, de uma pintura cujo
espaço ambíguo está próximo do da pintura da Escola de Paris, nomeadamente a de
Alfred Mannessier e a de Bertholle, não sendo porém alheia à ambição
surrealista de um Paalen. Em breve esta ambição do surreal leva D’Assumpção a
conjugar estas arquitecturas com grandes figuras transparentes de intenção
cabalística ou com sugestões de esferas e planos dinâmicos, em alusão simbólica
ao cosmos. Alguns títulos são indicativos desta ambição poética: Génesis
(1958), Mística (1958), Espaço-Deus (l960), etc.
Em
várias declarações, o próprio D’Assumpção não se considerava um artista, mas um
médium. Em 1950, escreveu: "Quem disser que eu sou um artista está
enganado. A pintura que faço não é minha, mas obra de um enorme Deus, que eu
não vejo e que raramente cai em mim." Mais tarde, dizia aos seus amigos:
"Pense bem, não é artista quem quer, embora todos tenham a liberdade de o
querer; só é artista quem é."
Inegavelmente
bem apetrechado tecnicamente e vivendo quotidianamente o desespero da sua
ambição criadora, D’Assumpção impressionou fortemente alguns pintores e poetas,
mas o seu convívio difícil aumentou a sua solidão. Suicidou-se em 1969 com 43
anos de idade.
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