Gregório Lopes
Visitação, c. 1527. Museu Nacional de Arte
Antiga
Gregório
Lopes (Portugal, c. 1490 - 1550). Foi uma das personalidades mais marcantes na
pintura portuguesa da primeira metade do século XVI, pintor régio de D. Manuel
I e D. João III, cedo aderiu à mudança cultural e artística que levou à
italianização da arte portuguesa, nos finais da década de trinta de 1500.
Representante do Renascimento evoluído em Portugal, foi o pintor que introduziu
o «Primeiro Maneirismo de Antuérpia» em Portugal.
Em
1513, Gregório Lopes já exercia o ofício de pintor e, em 1514, trabalhava na
Oficina de Jorge Afonso, em Lisboa, sendo casado com uma filha deste, Isabel
Jorge. Nesta Oficina foi companheiro de Pêro Vaz e Garcia Fernandes, de Lisboa,
e de Gaspar Vaz, de Viseu. O seu nome volta a aparecer em 1515 em escrituras
relativas à casa e terrenos que possuía junto ao Mosteiro de São Domingos, em
Lisboa.
Em
1518, trabalhou sob a chefia de Francisco Henriques, em parceira com Garcia
Fernandes, Cristóvão de Figueiredo, André Gonçalves e outros pintores
portugueses e flamengos, na importante obra de pintura encomendada pelo rei D.
Manuel I para a Casa da Relação de Lisboa - vasto conjunto que ficou
incompleto, devido talvez à morte de Francisco Henriques nesse mesmo ano, e que
depois se perdeu.
Por
carta régia de 25 de abril de 1522, o rei D. João III nomeava-o seu pintor;
nela se dizia que Gregório Lopes já o fora de D. Manuel I, embora não se
tivesse feito o respetivo registo. Em 1524, foi ordenado pelo rei Cavaleiro do
Hábito da Ordem de Santiago, por instigação de D.Jorge de Lencastre, Mestre da
Ordem Militar dos Espatários, para a qual o pintor trabalhava. Em 1526, era-lhe
fixada uma tença anual de 5.000 reais e 1 moio de trigo, por sua qualidade de
pintor régio.
Após
1530, Gregório Lopes executou, decerto numa oficina já sua, o retábulo
"Martírios de S. Quintino" para a Igreja de S. Quintino, em Sobral de
Monte Agraço, construída nessa data, a qual está gravada no portal manuelino do
referido templo; tal pintura perdeu-se e nada tem que ver com outras pinturas
existentes na mesma igreja, de motivos diversos e de época posterior.
Entre
os anos 1533 e 1534, Gregório Lopes colaborou com os pintores Garcia Fernandes
e Cristóvão de Figueiredo, em Lamego, na execução dos painéis do Mosteiro de
Ferreirim, como está provado documentalmente. Por esse trabalho conjunto,
habitual à época, os três membros desta parceria passaram a ser denominados
Mestres de Ferreirim, havendo dúvidas sobre a parte que porventura caberá a
cada um deles neste conjunto pictórico, atribuindo-se-lhes outras obras de
características afins, e realizadas em parceira, onde é difícil encabeçar a sua
autoria firmemente num só dos três parceiros.
A
partir de 1536 e durante os anos seguintes, sob o mecenato de Frei António de
Lisboa, trabalhou no Convento de Cristo, em Tomar, como se verifica por um documento
de Setembro desse ano, do arquivo do mosteiro e hoje na Torre do Tombo, segundo
o qual o artista recebera a avultada quantia de 168.000 reais pela execução de
alguns painéis para a charola - "Martírio de S. Sebastião" (hoje no
Museu Nacional de Arte Antiga), "Santo António pregando aos peixes" e
"S. Bernardo" (em Tomar) e "Santa Madalena" (desaparecido),
alem do retábulo para a capela de Nossa Senhora, do mesmo mosteiro, de que
resta no Museu Nacional de Arte Antiga o lindo painel "A Virgem, o Menino
e Anjos", proveniente de Tomar e atribuído por Émile Bertaux,
primeiramente, ao Mestre do Paraíso. Francisco Augusto Garcês Teixeira
identificou o "Martírio de S. Sebastião" como sendo obra deste
artista, mencionada nos documentos coevos, por as suas dimensões permitirem
integrá-lo na série da charola. Este precioso conjunto tomarense e o da Igreja
do Convento do Bom Jesus de Valverde, em Évora, constituem, pois, segura base
de identificação da obra do pintor, da sua técnica e do seu estilo.
Artista
palaciano, Gregório Lopes amava a pompa, o luxo, as cores quentes e cariciosas,
o largo e vistoso decorativismo. Como o acentua Reynaldo dos Santos, possuía
grande sentimento da composição e as suas Virgens e as mais figuras femininas
têm suavidade no oval do rosto, na rósea carnação, na doçura do olhar.
Atribuindo primacial importância ao desenho, fazia predominar o traço sobre a
mancha, ao contrário de Francisco Henriques, Cristóvão de Figueiredo e Garcia
Fernandes; por outro lado, nas suas pinturas, usava de preferência matéria
densa.
Dadas
as suas características, também lhe são atribuídas as duas séries de pinturas
da Igreja de S. João Baptista, em Tomar - a de "S. João Baptista" ou
"de Salomé" e a "da Eucaristia" - de colorido opulento e de
nobre sentimento decorativo, como o sustentou José de Figueiredo, tanto mais
que as obras da dita igreja tomarense dependiam do Convento de Cristo, onde se
sabe que trabalhou este pintor régio.
José
de Figueiredo atribuiu a Gregório Lopes as seguintes obras: "Assunção da
Virgem", da Igreja de Sardoura; "Santa Catarina e um dignitário da
Igreja", pintura esta em que, segundo o Abade de Castro, as personagens
seria D. Catarina, filha do rei D. Duarte, e o Cardeal D. Jorge de Costa; o
retábulo da Igreja do Castelo, de Abrantes, hoje Museu Regional D. Lopo de
Almeida, com a possível colaboração de Jorge Afonso; "O Menino entre os
doutores", proveniente do Convento da Encarnação, de Lisboa, hoje no Museu
Nacional de Arte Antiga; as tábuas de "S. Vicente", "S.
Lourenço", "S. Roque", "Santo António" e "S.
Sebastião", da Igreja de Santa Cruz, de Coimbra; a série das
"Alegrias de Maria", do retábulo da Igreja de Jesus, de Setúbal, e
bem assim a série dos santos franciscanos do mesmo retábulo, esta de
colaboração com seu filho Cristóvão Lopes. Por outro lado identificou-o com o
Mestre de Santa Auta, em cujo belo e decorativo retábulo, pleno de fausto, com
figuras femininas delicadas e enternecedoras, há inegáveis pontos de identidade
com a arte deste mestre. Também se inclinava a pensar que o retábulo do chamado
Mestre de S. Bento devia ser fruto da colaboração de Gregório Lopes e de
Cristóvão Lopes, pois é de crer que este tenha colaborado ativamente nas obras
da última fase da vida de seu pai. José de Figueiredo deu-lhe ainda a autoria
do célebre "Retrato de Vasco da Gama", do Museu Nacional de Arte
Antiga, que depois preferiu classificar mais genericamente como provindo da sua
oficina.
Outras
obras lhe têm sido atribuídas, como: "A Virgem visitando Santa
Isabel", do Museu Nacional de Arte Antiga, de iluminação e colorido
venezianos; a "Adoração dos Magos", do mesmo museu, com três soberbos
retratos de doadores; algumas tábuas da Capela de Nossa Senhora da Assunção, em
Cascais, como "Nascimento de Cristo" e "Reis Magos" no
altar-mor e o díptico "Anunciação" na capela do Santíssimo, todas de
bela composição e intenso cromatismo; e, a admitir, como parece plausível a sua
identificação com o Mestre de Santa Auta, retábulo onde surgem, airosas,
caravelas manuelinas, também o lindo painel com naus portuguesas existente no
National Maritime Museum, em Greenwich, Londres, marinha que, conforme o
acentua Reynaldo dos Santos, dir-se-ia dum precursor de Breughel.
É-lhe
ainda atribuído o retábulo da Capela de Nossa Senhora dos Remédios, em Alfama
(Lisboa), bem como o conjunto da Igreja do Convento do Bom Jesus de Valverde,
em Évora, executado em meados do ano de 1544, (conjunto vulgarmente designado
por Série da Mitra) onde se representam uma "Natividade", o
"Calvário" e "Ressurreição".
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