Guilherme
Camarinha
S, JORGE E O DRAGÃO
tapeçaria
180x120
Guilherme Duarte
Camarinha nasceu em Valadares, Vila Nova de Gaia, a 1 de Novembro de 1912,
sendo registado em Gulpilhares a 28 de Abril de 1913. Era filho de Joaquim
Francisco Camarinha e de Maria da Silva Duarte, que morreu quando Guilherme
tinha cerca de 11 anos de idade.
Em
criança manifestava já um evidente gosto pela pintura. Que se fez logo notar
nos rabiscos com que decorava as paredes da sua casa de Vilar de Paraíso.
Continuou a fazê-los no Liceu Alexandre Herculano, no Porto, escola que deixou
após ter completado o 3º ano do Curso geral dos liceus.
Em
1927, com o apoio do pai, matriculou-se no Curso Preparatório de Pintura da
Escola Superior de Belas Artes do Porto, onde foi aluno de José de Brito,
Acácio Lino e Joaquim Lopes, apreciando este último em particular, e
condiscípulo, entre outros, de Augusto Gomes.
Antes
de realizar o quadro de fim de curso já trabalhava como professor na Escola
Francisco de Holanda, para a qual havia sido convidado pelo seu director, o
escultor António de Azevedo. Posteriormente, leccionou em escolas industriais
no Porto e em Guimarães.
Como
prova de tese apresentou uma pintura intitulada Bacanais. Todavia, no fim do
curso de Pintura, solicitou a apresentação da tela Inflamação de Jesus Cristo,
datada de 1939, a qual denota a influência dos mestres espanhóis Goya e El
Greco, tendo obtido a classificação de 20 valores. Ainda estudante conhecera a
obra de Goya numa visita a Espanha, que o deslumbrou. Mais tarde, encantou-se
com a pintura italiana, em especial com a obra de Paolo Uccelo e dos mestres
Venezianos. Entre os artistas portugueses preferia a pintura de Dordio Gomes,
do colega Augusto Gomes e de alguns membros do grupo da Brasileira, no Chiado,
como Almada Negreiros e Eduardo Viana.
Foi
membro do Grupo + Além, criado na Escola Superior de Belas Artes do Porto
contra o ensino conservador e o Naturalismo. Apesar de não ter assinado o
Manifesto deste movimento participou nas suas exposições no Salão Silva Porto,
em 1929, e no Ateneu Comercial do Porto, em 1931. Nos anos 40 integrou as
exposições dos chamados Independentes.
Entre
1959 e 1962 leccionou na ESBAP, na qualidade de Professor Assistente, tendo
participado nas exposições Magnas realizadas durante esse período.
A
partir de finais dos anos 50 passou a dedicar-se, sobretudo, à Arte Pública, em
especial à tapeçaria, o que lhe granjeou fama. No entanto, nunca deixou de se
considerar um pintor. A pintura que continuou a produzir absorveu parte dos
modelos que usou nas artes decorativas monumentais.
As
encomendas oficiais que recebeu constavam, essencialmente, de cartões para
tapeçarias monumentais, executadas na Manufactura de Portalegre e destinadas a
Tribunais, Palácios de Justiça, Câmaras Municipais, Universidades e Embaixadas
Portuguesas no estrangeiro.
Nas
salas de audiências de Tribunais e de Palácios de Justiça concebeu composições
decorativas sobre temas alegóricos e históricos, como A Valorização do Mundo,
para o Ministério das Finanças (1953), a Régia Cúria, para o Tribunal de
Coimbra (1959) e a Reforma da República, para o Palácio de Justiça de Lisboa
(1970).
Para
outras salas de audiência de tribunais portugueses fez pintura a fresco,
utilizando a mesma temática, como A Devolução da Várzea Grande ao Povo de
Tomar, no Tribunal de Tomar (1959), A Primeira Sentença, no Tribunal de Alijó
(1966) e Fauna do Mar, no Tribunal de Ovar (1968).
Preito
de Lealdade de Egas Moniz - Sala de Audiências da antiga 1ª VaraDurante quinze
anos trabalhou em dezasseis tribunais (no de Chaves, em 1956, nos de Coimbra e
Tomar, em 1959, no de Vila Nova de Famalicão, em 1961, no de Faro em 1962, no
de Amarante em 1964, no de Santa Comba Dão em 1965, nos de Alijó e Pombal em
1966, nos de Santiago do Cacém e Ovar em 1968, no de Águeda em 1969, no de
Lisboa em 1970 e no de Tondela em 1971). Este grande número de encomendas do
Ministério da Justiça resultou da amizade que mantinha com os arquitectos Januário
Godinho e Raul Rodrigues Lima, que sempre o recomendaram a esse Ministério, e
do especial apreço pela sua arte sentido pelo Ministro Antunes Varela.
Tapeçaria
- O incêndio de AmarantePara diversas câmaras municipais portuguesas concebeu
cartões para tapeçarias que iriam embelezar os respectivos salões nobres, de
que são exemplo: a Lenda do Senhor de Matosinhos, em 1960, para a Câmara
Municipal de Matosinhos; uma cena de actividades agrárias para a Câmara
Municipal de Famalicão, em 1961; e, para a Câmara Municipal do Porto, Honra e
Glória, em 1958, Actividades no Porto junto ao Rio e S. João do Porto, em 1962.
Fez,
igualmente, cartões para as tapeçarias da Faculdade de Medicina da Universidade
do Porto (Alegoria à Medicina, de 1950), da Faculdade de Letras da Universidade
de Coimbra (Artes e Letras, de 1955), da Faculdade de Direito de Lisboa
(Alegoria de Direito, de 1968) e, ainda, para a Sala de Leitura Geral da
Biblioteca Nacional de Lisboa (Leitura Nova, de 1966).
Merecem,
também, destaque as composições que realizou para a Embaixada de Pretória (Cabo
das Tormentas, de 1973) e para a Embaixada de Brasília (Actividades, de 1977);
para o Paquete Santa Maria (Ilha dos Amores, de 1952) e para a sede da Fundação
Calouste Gulbenkian, em Paris (Jardim das Artes, de 1968).
Guilherme
Camarinha recebeu, também, encomendas de empresas e de particulares, entre as
quais se destacam as das seguintes obras: A Lenda da Misarela, para a
EDP-Hidroeléctrica do Cavado, de 1950, as várias Actividades e Histórias dos
Pedreiros, de 1970, para a Cooperativa dos Pedreiros, Alentejo, de 1972, para a
ENATUR, Terra e Mar, de 1974, para a Sociedade do Estoril-Hotel Guincho, Vinho.
Alegria Dourada, para a Sogrape, em 1958.
Em
1936 recebeu o Prémio Amadeo de Souza Cardoso do Secretariado da Propaganda
Nacional, destinado a premiar jovens artistas. Em 1957, com Júlio Resende,
obteve o 2º prémio de Pintura da I Exposição de Artes Plásticas da Fundação
Calouste Gulbenkian, com o famoso Auto-retrato, dos anos 50. Em 1967 alcançou o
Prémio Nacional de Tapeçaria e em 1989 foi agraciado com a Medalha de Mértio,
Grau de Ouro, da Câmara Municipal do Porto, atribuída postumamente, em 1995.
Participou
na Exposição Internacional de Paris de 1937, aí concebendo um painel para o
Pavilhão de Portugal; na 2ª Bienal de Arte Moderna de S. Paulo, em 1953; numa
exposição de Pintura na Fundação Calouste Gulbenkian onde exibiu a tela
Funambulesco, na qual se manteve fiel à geometrização, e nas duas primeiras
bienais internacionais de tapeçaria em Lausanne; integrou, também, a Exposição
de Tapeçaria e Vidro de Estugarda, em 1966, e a mostra no Castelo de Angers, em
1981.
Morreu
no Porto em 1994.
Após
o seu falecimento, um grupo de amigos colocou uma placa em sua homenagem na
Casa-atelier de Coimbrões, onde Guilherme Camarinha viveu e trabalhou.
Guilherme
Camarinha foi um homem discreto, afável e comedido, amigo de outros artistas
como Henrique Moreira, de quem fez um retrato e de quem recebeu uma escultura,
ou como António Régio. Mas foi, acima de tudo, um artista singular que, para
além de pintura e tapeçaria produziu vitrais, esculturas, mosaicos (para a
cripta do Santuário do Sameiro, em Braga) e frescos, como a belíssima Via Sacra
da Igreja de Nossa Senhora da Conceição, na Praça do Marquês de Pombal, no
Porto, o do antigo Café Rialto, também no Porto, e o da Igreja do Bom Pastor da
Igreja Lusitana, em Vila Nova de Gaia (1964).
(Universidade
Digital / Gestão de Informação, 2009)
Sem comentários:
Enviar um comentário